quarta-feira, 29 de junho de 2011

ORGULHOS ´MÚLTIPLOS' - no combate a todos os preconceitos


imagem publicada - Um cérebro,com seus dois hemisférios, visto de cima com suas circunvoluções coloridas de diferentes cores e matizes, trazendo a frase a seu redor: Every Brain is Beatiful (Todo cérebro é belo), que é uma imagem utilizada no Autism Pride Day, ou seja o Dia do Orgulho Autista, quando autistas norte-americanos, em 18 de junho de 2005, afirmaram: "Não nos tratem como "doentes”. Somos diferentes, sim. Mas não precisamos de remédio ou de cura, mas de uma chance de sermos nós mesmos..." (http://neuropride.livejournal.com/) . Esse cérebro ''diferente e colorido'' traz as cores do arco-íris, alusão a um símbolo hoje do direitos de pessoas LGBTT, com vermelho, amarelo, verde, azul e laranja reforçando a noção de diversidade de modos de ser e estar em nosso planeta Terra, também multicolorido.

"Da Igualdade - como se me incomodasse dar a outros as mesmas oportunidades e direitos que tenho, como se para os meus próprios direitos não fosse indispensável que outros também os tivessem", Walt Whitman (1819-1892) - Folhas das Folhas da Relva


Na continuidade da busca de demolição de todas as formas de preconceitos e discriminações, assim como homenagem, mesmo que tardia ao Dia do Orgulho Autista, pensei bastante sobre os múltiplos orgulhos que passamos a comemorar. E me perguntei por que temos de ter ainda ORGULHO? me lembrei da leitura afetiva dos primeiros textos de Frantz Fanon. Os mesmos textos que me despertaram o que é o Orgulho Negro. Hoje digo que ele está englobado pelo Orgulho Afrodescendente, em homenagem a um novo olhar contra todos os racismos. 


Mas que orgulho é esse? é apenas brio ou reatividade à alguma forma de segregação ou humilhação que foi sofrida/inflingida aos meus ancestrais? Não, é o orgulho que passamos a ter quando nos identificamos, nos re-conhecemos e nos damos o direito à uma diferença. Como nos dicionários é quando passamos a 'ter um elevado conceito de si mesmo'. Ou seja re-existimos diante de qualquer forma, tipo ou ação preconceituosa.

É quando nos incluímos antes mesmo que nos ofereçam uma inserção condescendente ou por culpa. Cuidamos para não colar mais na nossa pele nenhum rótulo, estereótipo ou estigma. Nos orgulhamos, enfim, do que somos, como somos e por que queremos/desejamos ser/estar múltiplos ou singulares. E comemoramos publicamente, seja em Maio ou Novembro,e agora em Junho. 

No dia 18 de junho comemoramos o orgulho de quem vive com um transtorno: o Autismo. Depois, com uma das maiores manifestações de massa, a Parada do Orgulho Gay, de São Paulo,comemoramos os que escolhem, experimentam, se orientam e vivem como Lésbicas, Transsexuais, Bissexuais,Transgêneros, Homoeróticos, Travestis, Gays, e outras formas de ser e estar que são aglutinadas, respeitadas suas diferenças, sob a sigla LGBTT. Já conseguiram sua replicação para além de São Paulo e afetaram todos os cantos do Brasil. Faça chuva ou sol, sem temor de quaisquer repressões policiais ou políticas do passado.

O movimento de Orgulho Gay nasceu de uma afirmação de direitos civis nos EUA. O Gay Pride Day tornou-se um dia para marcar a conquista dos mesmos direitos que todos os outros cidadãos e cidadãs tinham, têm e terão. O movimento de orgulho gay começou após a Rebelião de Stonewall em 1969, quando os homossexuais em bares locais enfrentaram a polícia de Nova Iorque durante uma disputa inconstitucional. A afirmação de direitos foi a progressiva conquista resultante de Paradas que estão sendo realizadas anualmente até hoje. O orgulho passou a ser afirmação contrária à vergonha imposta pelos preconceitos contra a homossexualidade e outras formas de viver as sexualidades humanas.

Assim como os homossexuais, também os autistas foram e ainda estão sob a preconceituosa visão biomédica de serem apenas ''doentes''. E, apesar de já se ter esclarecido que ambas condições devem ser, hodiernamente, compreendidas como apenas formas diferenciadas de orientação sexual ou de funcionamento do SNC (Sistema Nervoso Central) há um olhar preconceituoso que os discrimina.

O movimento Aspies for Freedom gerou a iniciativa do Dia do Orgulho Autista. Este grupo milita pelos direitos das diferentes formas de autismo, buscando a educação e publicação de esclarecimentos, bem como a conquista de políticas públicas dedicadas para estes sujeitos, tendo como combate principal a genêse de todos os preconceitos: a ignorância.

Os preconceitos, biopoliticamente, como formas exclusão, controle e poder, podem ser assemelhados aos Impérios. Estes recrudescem, enrijecem e envelhecem nos estertores de suas quedas. Tornam-se mais ríspidos, grosseiros, violentos e, defensiva e consequentemente, mais brutais. Desses processos naturalizados e institucionalizados nasceram, historicamente, muitas ditaduras e ditadores. 

Estes herdeiros de tempos imperialistas no temor de que suas práticas macropolíticas e suas ideologias fossem demolidas, com a retirada de cada tijolo ou pedra de seus alicerces, aprenderam, com o tempo, a construção de Muralhas. Para alguns ainda deveríamos construir espaços segregados para autistas ou homossexuais, com muralhas invisíveis que nos protejam das fobias que despertam, em nós, diante de suas diferenças consideradas ''extravagantes'' ou ''fora das normas ou padrões''.

Estas são como as Muralhas da China de Kafka. Porém, com o tempo, tornam-se-ão prisioneiros de seus próprios cerceamentos, com fragilidades que reforçam seus engessamentos institucionais. No Brasil estamos assistindo o espetáculo proporcionado por representantes políticos e radicais religiosos contra todas as mudanças de paradigmas. Reagem de forma agressiva a qualquer mudança, principalmente quando estas autorizam a inclusão nos mesmos direitos os que por suas ideologias devem continuar em segregação.

Em muitos momentos nos sentimos orgulhosos nos novos tempos de Marchas e de Liberdades. Nos sentimos e nos autorizamos a sentir orgulhos que possam ser expressados ''publicamente". Por isso um dia para comemorar qualquer forma de Orgulho de ser ou pertencer é um dia muito especial para quem o vivencia. Na compreensão psicanalítica de Frantz Fanon, um homem martinicano e negro, só quando trabalhamos as alienações que são produzidas em nossas subjetividades é que começamos a nos libertar do que colonizou nossos inconscientes.

Como os ''multiplos orgulhos'' sendo cartograficamente exercidos também nos libertamos das formas como nos propõem, no social, a incorporação de modelos identitários que neguem as singularidades e as diferenças. Quando, caminhando e cantando, com garra e determinação, individual ou coletivamente, compartilharmos novos espaços de liberdade. Espaços que, segundo Toni Negri em carta a Guattari, situam-se no intervalo entre o poder e o saber, o espaço onde o amor, com o concebe Spinoza, pode ser a melhor ligação entre eles.

Por isso o tema da Parada Gay é instigante: Amai-vos uns aos Outros... Hoje, constitue-se para além dos conservadorismos religiosos ou dos falsos guardiões da moral, um espaço livre para a visibilização social desses cidadãos e cidadãs orgulhosos de suas orientações sexuais.

Com as recentes conquistas de direitos para pessoas LBGTT, que vão da união estável ao uso do nome social, também estão em movimento conquista de projetos de Lei para garantir a inclusão de autistas no campo educacional, protegidos pelos mesmos direitos que já dispõem as pessoas com deficiência. E conquistarão mais políticas públicas dedicadas aos chamados transtornos do espectro autista caso seja aprovado o Projeto de Lei do Senado de número 168. 

E desejo que este número nos relembre um ano de grandes mudanças culturais e de transformações políticas, quando muitos de nós acreditávamos em um outro mundo possível, com o Sol sob o asfalto e gritávamos, contra todas as ditaduras e preconceitos: queremos apenas Paz e Amor.

Estamos agora cantando, novamente, como uma nova revolução molecular em ação, aos quatro cantos da Terra, em alto e bom som: Gay is Beatiful e Every Brain is Beatiful. E o novo paradigma ético e estético guattariniano se fará um rompedor das muralhas dos preconceitos redividos... 

Em meus recônditos da memória continua o meu orgulho singular, na voz da saudosa Elis Regina: Black is beatiful... e quero continuar tendo o direito a ter meus ''múltiplos'' orgulhos...e repito Walt Whitman: "...como se para os meus próprios direitos não fosse indispensável que outros também os tivessem'' .


copyright jorgemarciopereiradeandrade 2010/2012/AD INFINITUM  (favor citar o autor e fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de massa)

Fontes para informação:

Dia do Orgulho Autistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Orgulho_gay


Hoje é Dia do Orgulho Autista - conheça melhor esse transtorno http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2011/06/27/hoje-e-dia-do-orgulho-autista-conheca-melhor-esse-transtorno/

Orgulho Gay http://pt.wikipedia.org/wiki/Orgulho_gay

Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=92246&tp=1

Referência bibliográfica -
Os Novos Espaços de Liberdade
- Félix Guattari&Toni Negri - Centelha Ed. - Coimbra - Portugal, 1987.


Leia também no Blog -
Asperger: uma Síndrome de Mentes Brilhantes ou não? 
http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/11/asperger-uma-sindrome-de-mentes.html

Qual é a tua Raça? Nada a declarar. - http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/11/imagem-publicada-uma-foto-em-preto-e.html

Vulneração e Mídia no Cotidiano das Deficiências http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/04/vulneracao-e-midia-no-cotidiano-das.html

A Terra é Azul e o Autismo tambémhttp://infoativodefnet.blogspot.com/2011/03/terra-e-azul-e-o-autismo-tambem.html

Um Autista pode vir a ser Artista com a Água?http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/04/um-autista-pode-vir-ser-um-artista-com.html

Leia também NOTÍCIAS sobre AUTISMO(S) NO INFONOTÍCIAS DEFNET -

AUTISMO/MÚSICA -LOU, eu me chamo LOU - Lou, je m" appelle Lou Video- sobre artista francês "autista" e cego 

http://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/08/lou-eu-me-chamo-lou-lou-je-m-appelle.html

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

ALZHEIMER NÃO É UMA PIADA, mas pode ser poesia de vida


Imagem publicada - uma foto da primeira mulher diagnosticada pelo médico que deu o nome à doença, Alzheimer. É uma foto cuja descrição não atingirá a força de sua gravidade e sofrimento, feita há mais de um século, da Sra. August D.; onde uma mulher de aparência depressiva e decadente, com olhar esvaziado como a sua mente e memória, vestindo uma provável roupa uniforme do Sanatório Municipal para Dementes e Epilépticos de Frankfurt, na Alemanha. É uma foto em cores ciano com uma mulher olhando para baixo, com as mãos entrelaçadas próximas do corpo, que se curva como as rugas que se pronunciam em sua fronte, anunciando um envelhecimento precoce e intensivo que lhe rouba toda vitalidade.


Maravilha-te, memória! (Fernando Pessoa)

Maravilha-te, memória!
Lembras o que nunca foi,
E a perda daquela história
Mais que uma perda me dói...


Os tempos anunciam a permanência/crença dos preconceitos. Começamos, recentemente, com a Casa dos Autistas que a mídia televisa grotescamente nos obriga ainda protestar, culminando com as piadas homofóbicas ou racistas. São equivalentes de manifestações fascistantes de deputados frustados com os novos tempos.

A hora da demolição dos preconceitos e das intolerâncias já foi anunciada. Não bastará o que chamam de politicamente correto. É o tempo de uma nova e construtiva seriedade ética, com respeito às diferenças e aos diferentes modos de ser, estar, viver, adoecer e morrer.

Por esse tempo é que me incomoda quando me dizem a frase: olha o Alemão está chegando?!, uma triste piada, já banalizada, nos diferentes meios para falar sobre Alzheimer. A vox populi já a naturalizou como uma ameaça da perda de memória. Uma perda a que, todos e todas, estamos submetidos, tanto as memórias coletivas como as individuais. Uma perda que é só um dos sintomas que anunciam uma doença devastadora.

Esta é uma referência a Alois Alzheimer (1864-1915) o médico que apresentou o primeiro caso desta demência. Ele descreveu o caso de uma paciente: a Sra August D.. No Congresso de 1906 Alzheimer apresentou sua conferência onde o definiu como “uma patologia neurológica, não reconhecida, que cursa com demência, destacando os sintomas de déficit de memória, de alterações de comportamento e de incapacidade para as atividades rotineiras".

E, apesar do século já vivenciado, esta continua sendo a descrição do ''Mal de Alzheimer''. Esta tão temida doença neurológica que ainda intriga e desafia todos os pesquisadores e neurocientistas.

O que então nos faz fazer piada de uma doença com tão devastadores sintomas e degragadação de um ser humano? Não sei a melhor resposta. Mas há uma possível implicação de nossas posturas psíquicas e históricas diante do sofrimento do Outro. Na maioria das vezes, por mecanismos de defesa, a moda de Freud, projetamos nos nossos semelhantes as nossas mais temidas fragilidades.

A memória perdida é um dos nossos mais temidos fantasmas. Eu pessoalmente os conheço desde a década de 80 quando confirmei o diagnóstico de minha própria mãe. Como muitos familiares e cuidadores conheci sua dura realidade...

Quem já vivenciou ou vivencia o convívio com as perdas que a doença produz pode avaliar por que digo que me incomodam, epidermica e profundamente, as piadas que temos de ouvir. Não sei da dor ou dos temores de outrem. Sei apenas que me causam um mal-estar e uma sensação de revolta, mas, principalmente, me refazem o temor dos que reconhecem na doença seu potencial de hereditariedade.

Aí me coloco na pele de quem não reconhece nem mesmo os que mais ama ou respeita. É quando alimento, como muitos, o desejo de uma possível solução ou cura, para além dos tratamentos atuais, que criem um horizonte, um futuro possível.

Uma matéria recente nos fala de uma região, em Medellin, Colômbia, onde os descendentes de um casal espanhol, emigrado no século XVIII, tem mais de cinco mil casos da doença. Segundo a reportagem: "Não se conhecem as identidades do homem e da mulher, mas o clã que fundaram apresenta uma peculiaridade genética: uma alteração no primeiro gene do cromossoma 14".

Aos que passam por temores por parentesco com a Doença de Alzheimer digo que esta é uma oportunidade de uma pesquisa sobre os fatores genéticos, hereditários, ambientais e sociais que podem ser desencadeadores ou as gêneses combinadas para o surgimento precoce de sintomas demenciais.

O que tem me feito bem ao meu coração escrevinhador é a possibilidade de que me um prazo de alguns anos as pesquisas trarão muitas descobertas no campo das demencias. Digo no plural pois são muitas as situações de demências ou doenças neurológicas graves que as ocasionam. O que mais conhecemos e falamos ainda é o quadro que, preconceituosamente, ainda é tratado, em especial nas mídias, como um Mal. Um mal que confirma a visão preconceituosa de temerosa criada em seu histórico secular.

Mas o que pretendem realizar em Medellin é uma experiência que transformará os descendentes do casal espanhol em um ''laboratório vivo''. A proposta é de que estes supostos portadores genéticos do ''mal'' se tornem ''cobaias humanas". O Banner Institute, uma organização americana e pioneira no estudo do Alzheimer, quer iniciar já em 2012 os testes a possíveis medicamentos para a doença.

A ideia é selecionar entre os membros do clã colombiano voluntários que aceitem servir de cobaias durante vários anos. Uns receberão um medicamento, outros um placebo. Ninguém saberá o que recebeu, e nem todas as cobaias serão portadoras da tal alteração genética. Ao fim de dois anos ver-se-á se houve efeitos, e quais.

Nesse momento é que convido à reflexão sobre a banalização do termo ''Alzheimer". Quando um grupo de cidadãos colombianos pode vir a ser transformado, mesmo que voluntariamente, em objeto de pesquisa científica é hora de muita seriedade e pouquíssimas piadas. É hora de um alerta bioético.

É hora de reflexão sobre o que entendemos como consentimento livre e informado, e sobre o uso do corpo humano, dos Outros, em pesquisas científicas. Mesmo que estas possam significar um suposto avanço contra o que vem sendo chamado de ''mal dos séculos'', mesmo que isso alimente as minhas esperanças mais íntimas...

Piadas nos fazem rir, desde tempos imemoriais, mas também podem nos fazer chorar. E uma vez que você traga dentro de si uma chaga ou temor o riso de outros pode ser apenas estímulo para que sua ''memória'' ative alguma tristeza ou afeto. E, olhando para o futuro, o que sente um colombiano que poderá ter todas as suas memórias apagadas? Ele não sabe se tomou a medicação para preservá-las ou uma pílula placebo de açúcar que terá um gosto amargo de esquecimento depois.

Convido a quem gosta de falar no Dr. Alois Alzheimer, cuja alcunha hoje é o ''alemão'', que reflita sobre este ponto de vista ético e bioético antes de repetir, reproduzir e naturalizar a sua chegada a quem se queixa de esquecer as senhas do banco ou os compromissos e datas importantes. Convido para que assistam os filmes e documentários que estão sendo indicados, que possam se sensibilizar e reposicionar sobre o assunto.

Está na hora de revermos nossos preconceitos temerosos com o Dr. Alois. Um bom exercício é lembrar a universalidade da doença. Ela atinge desde uma sul-coreana, como no filme Poesia, até um homem catalão, Pasqual Maragall, que nos impressiona no documentário "Bicicleta, cuchara e manzana". Depois disso poderemos dizer que Alzheimer não é uma piada, mas pode vir a ser um redescoberta poética de nossas finitudes.

O meu apelo é na direção da sensibilidade. As mesmas sensibilidades que me inspiram os filmes de Chaplin. O sorrisos que me produziu, e ainda produzirá, são respeitosos com as denúncias que o ator-cineasta aponta nas tragicomédias que encantaram o mundo. O que sentiria Carlitos caso tivesse de representar, para além de um vagabundo e homeless, um homem que perdesse, progressivamente, todas suas preciosas memórias?

Talvez ele nos inspirasse a reconhecer o Grande Irmão (1984) ou o Grande Ditador como uma criação coletiva de todos nós. E nos faria sorrir ou chorar, sem ridicularizar, com o infindo, heterogêneo e múltiplo da condição mortal e frágil dessa "coisa" e Vida Nua chamada Ser Humano...

Vamos nos olhar/escutar/afetar, bio-eticamente, nos nossos próprios olhos/ouvidos/afetos? Como será nos encarar nos nossos espelhos antes de contarmos a próxima piada sobre negros, judeus, homossexuais, mulheres, estrangeiros, loucos, e, principalmente, sobre quem vivencia a doença de Alzheimer?
Não se esqueça(m) de lembrar!


copyriht jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres na Internet ou outros meios de comunicação de massa)

19/12/1915 – Morre Alzheimer, ou não, ou sim…
http://historica.com.br/hoje-na-historia/morre-alzheimer-ou-nao-ou-sim
Cinco mil descendentes e metade tem Alzheimer
http://aeiou.expresso.pt/cinco-mil-descendentes-e-metade-tem-alzheimer=f656261

O Cinema e Alzheimer: indicações do blog
El retrato luminoso de la lucha de Maragall contra el Alzheimer llega a Brasil
http://www.google.com/hostednews/epa/article/ALeqM5ggF3k4Vs0urenA9YdcEKNS3Fz-nQ?docId=1549431

Tráiler: 'Bicicleta, cullera, poma (Bicicleta, cuchara, manzana)' - documentário de Carles Bosh
http://www.rtve.es/alacarta/videos/festival-de-cine-de-san-sebastian/trailer-bicicleta-cullera-poma-bicicleta-cuchara-manzana/880566/

Documentário emocionante sobre combate ao Alzheimer é exibido no Cine Ceará
http://cinema.uol.com.br/ultnot/efe/2011/06/14/documentario-emocionante-sobre-combate-ao-alzheimer-e-exibido-no-cine-ceara.jhtm

"Poesia": O Alzheimer num mundo cruel
http://aeiou.expresso.pt/poesia-o-alzheimer-num-mundo-cruel=f635361

Leia também no BLOG _
MÂES, ALZHEIMER E MÚSICA
 http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/05/maes-alzheimer-e-musica.html

Demolindo Preconceitos, re-conhecendo a intolerância e a desinformação
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/06/demolindo-preconceitos-re-conhecendo.html

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A EDUCAÇÃO DE PÉS DESCALÇOS

imagem publicada - capa de dvd do filme Nenhum a Menos. Este filme chinês, dirigido por Zhang Yimou (Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1999), a ser visto como uma alegoria de uma jovem, de 13 anos, que substitui o professor, determinada a não permitir que ''nenhuma criança fique fora de sua sala de aula'', custe o que custar, mesmo que tenha de caminhar milhares de quilômetros contra a evasão escolar, em um cenário ainda muito próximo das condições de educação rural em nosso país. Nesta capa aparece a menina chinesa, Whei Minzhi, no centro de uma imagem desfocada, como uma multidão, tendo abaixo um grupo de crianças chinesas sentadas, com presença de um menino, de 10 anos, está entre as letras de Nenhum a Menos (Not One Less). O menino a ser resgatado da cidade, para onde foi em busca de sobrevivência familiar, assim como milhares ainda o fazem ao sair do campo em busca de trabalho no Brasil, embora devessem estar é em escolas.

"É direito. É todos direitos que a humanidade tem, né? Os direito!" (fala de um morador de Capão Redondo, São Paulo)

Por um educação dos diferentes pés, calçados ou não...

Hoje, sentia muito frio nos meus pés. Nesse amanhecer de inverno para minhas dores, no cedo tão frio minha manhã ficou mais quente e calorosa. Era a notícia de que o Senado, no caminho para a disciplina de direitos humanos ser incluída nas escolas, está discutindo: "diretrizes nesse sentido estão sendo elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), conforme anunciou nesta quinta-feira (9) o representante do colegiado, Raimundo Feitosa, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH)...".

E estas diretrizes já se tornaram antigas máximas que repeti durante muitos encontros. Já, para além dos universalismos, publiquei em quase todos os textos que escrevi: a educação em e para os direitos humanos é a via regia para a construção de uma futura Sociedade que respeite as diferenças.

Quem já 'sabe' o que são os Direitos Humanos? As vozes e ecos populares, assim como Ícaros que vão em direção ao Sol, aprenderam uma máxima que é o contrário: ''Vixe, agora as crianças vão aprender desde cedo que o crime compensa, e que tem muita gente que viva à custa dele...", confirmando os ares penetrantes do passado dos Anos de Chumbo. A maioria da população brasileira que ainda usa os pés descalços, tanto física como educacionalmente, para caminhar acredita, piamente, que só há direitos humanos para ''bandidos''.

Como então construir um outro conhecimento sobre o que realmente são os Direitos Humanos? Há que providenciar uma outra forma de educação. Uma educação que tire as meias dos preconceitos, os coturnos da disciplina militarizada e do passado, retire os temores das pedras das intolerâncias arraigas, e, como Heráclito, acredite que os novos caminhos e estradas se construirão ao caminhar. Para além de todos os obstáculos e todos os percalços das novas estradas do conhecimento.

O território que experimentamos é, como já o disse Milton Santos, para além dos territórios conhecidos e mapeados, são os territórios banais. É nesse campo, em especial nos longíguos recantos brasileiros, que precisaremos de um persistente e contínuo desejo de educar para e com direitos humanos. Até nas metrópoles e nas cidades mais desenvolvidas há um incessante murmúrio velado sobre os Direitos Humanos. Um exemplo nos vem de uma experiência realizada em Capão Redondo, situado na região sul de São Paulo.

Esta experiência de enfrentar os "Desafios para a atuação de um Centro de Direitos Humanos e Educação Popular", é descrita por Petronella Maria Boonen. Ela nos mostra que em uma área de concentração de favelas, loteamentos clandestinos e moradias precárias, com população majoritária de migrantes, o trabalho de educar para direitos humanos fica ainda mais árduo. Esta é (ou foi) uma região conhecida pelos altos índices de homicídios e violências cotidianas.

Como então vencer preconceitos arraigados sobre o que são, a quem se destinam e como efetivar os Direitos Humanos? A pesquisadora Petronella em seu artigo nos avisa sobre as representações que os moradores destes espaços têm sobre direitos humanos. E, ao lê-la, sobre a possível 'razão' do que chamamos de 'população desfavorecida' ter resistências ao tema, como sendo o ''desenraizamento'' associado à exclusão social, ficaremos para refletir sobre as mudanças de conceitos e de representações que uma escola pode propiciar.

A afirmação dos Direitos Humanos, que passam pela profissão, pela moradia digna, pelo saneamento básico, pelo emprego, pela conquista de justiça social, tem uma velha origem: a palavra direito. Esta palavra, segundo Lèvy Bruhl, citado por Buono e Boonen, deriva de "droit, right, Recht, Diritto e direito, nas diversas línguas, provém de uma metáfora, em que a figura geométrica adquiriu sentido moral e, em seguida, jurídico: o direito é a linha reta, que se opõe à curva ou à oblíqua, e que se liga à noção de retidão, de franqueza e de lealdade nas relações humanas''.

A notícia, mesmo que tardia, da introdução de uma disciplina de direitos humanos nas escolas só acrescenta à geometria civilizatória uma dose necessária de gramática civil. O exercício, como deverá ser em uma proposta de inclusão escolar, da máxima: NENHUMA CRIANÇA A MENOS, é por si só um possível para a erradicação dos analfabetismos funcionais sobre direitos humanos.

Estaremos abrindo portas e janelas dos ambientes escolares para a ventilação de novas idéias de convívio, respeito e aprendizagem com a diferença. Por isso convoco a todos e todas para que ''politizemos'' a questão dos direitos humanos nas escolas. Principalmente nas escolas rurais, sertanejas ou reconditas, onde os pés ainda calçam chinelos ou, preferencialmente, ainda vivem do chão batido.

Peço apenas que retiremos as meias palavras e nossas protegidas meias visões sobre estes Outros em marginalização. Somente um exercício de aplicação dos nossos conhecimentos eivados de muito afeto, empatia e respeito poderão abrir e construir, com as mãos calejadas ou sem calos, juntas, singularizadas, uma estrada aberta para o futuro dos Direitos Humanos.

Direito é direito. Muito embora, na realidade brasileira, faça curvas e trace caminhos oblíquos para os que só andam de sapatos ou botas de couro, sejam nacionais ou importados, de griffe ou da 25 de Março. Entretanto, parece que seus pés, "tristemente entortados", principalmente pelas corrupções, começam a ser igualitariamente tratados pela Justiça. Eles também se dizem ''portadores'' de direitos humanos...

Os filhos de nossos filhos verão, assim desejo, um outro mundo possível: direitos humanos transversalizarão todas as vidas humanas, independentemente de quaisquer privilégios ou preconceitos, assim como a educação é e será sempre um direito fundamental. NÃO PODEMOS TEMER NEM ATEMORIZAR NOSSAS CRIANÇAS.

copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 ad infinitum , todos os direitos reservados  (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa)

Referência Bibliográfica no texto:
Direitos Humanos e Educação - Outra Palavras, Outras Práticas - Flavia Schilling (Org.) , Ed FEUSP/Cortez Editora , São Paulo, SP, 2005.

Direitos humanos deverão ser ensinados nas escolas 
https://www.senado.gov.br/noticias/direitos-humanos-deverao-ser-ensinados-nas-escolas.aspx

Direitos Humanos nas Escolas - BLOG (Ver comentários)
https://maringa.odiario.com/blogs/edsonlima/2011/06/10/direitos-humanos-nas-escolas/

Filme - NENHUM A MENOS
https://www.infoescola.com/cinema/nenhum-a-menos/
https://www.asia.cinedie.com/not_one_less.htm

LEIA TAMBÉM NO BLOG - 

DIREITOS HUMANOS COMO QUESTÃO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA-
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/05/imagem-publicada-uma-foto-de-tres.html

UM PEDAÇO DE GIZ NA LOUSA DIGITAL - Pelo Dia do(a) Professor(a) 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/10/um-pedaco-de-giz-na-tela-digital-dia.html

quinta-feira, 2 de junho de 2011

DEMOLINDO PRECONCEITOS, RE-CONHECENDO A INTOLERÂNCIA E A DESINFORMAÇÃO


imagem publicada - a foto de capa do filme alemão A Onda, de Dennis Gansel, baseado em fatos verídicos ocorridos em 1967, nos EUA, onde um professor de costas, com camisa branca, fala em assembléia escolar para um grupo de seus alunos, todos vestidos de camisas brancas, uniformemente, após uma tentativa do mestre de ensinar o que é Autocracia. Devido ao desinteresse dos jovens, no ensino médio, ele propõe um experimento grupal que explique, na prática, os mecanismos do fascismo e do poder. O professor Wegner se denomina o líder daquele grupo, escolhendo o lema "força pela disciplina" e dá ao movimento o nome de A Onda. Um filme que merece discussão e reflexão sobre a presença de um personagem muito próximo do que se tornou o jovem Wellington na Escola Tasso, em Realengo... Incita-nos a perguntar se os fascimos podem ser replicados e reatualizarem-se?


Recebi um comentário no blog que me reforçou o desejo da escrita. O amigo Vinicius Garcia foi quem me apontou uma tríade de palavras inbricadas: os preconceitos, a desinformação e a intolerância. Este comentário se somou ao que já vinha pensando sobre os mais recentes preconceitos que se difundiram pelas Mídias e sua Idade Mídia Global. 


O momento, com as hiperexposições e des-informações por segundo, exige, portanto, uma reflexão sobre os conservadorismos e, principalmente, sobre os microfascismos que se manifestam contra os movimentos, marchas, legislações e protestos anti-homofobia e anti-racismos, por exemplo.

A questão do preconceito já estava fervendo na ponta digital de minha ''pena''. Escrevo para o Vinicius e outros companheiros da Vida Independente, com esta pena/escrevinhadora, hoje um teclado, que nos tempos das missivas permitiu muitas revoluções, mas também foi o instrumento de alicerce de alguns preconceitos que ainda nos transversalizam. Foi a escrita que perenizou alguns dos mais renomados textos sobre formas de segregar, excluir e penalizar/exterminar as diferenças marginalizadas.

Como dizem, hiperbólicamente: correram muitos rios de sangue, tortura e fogo, desde o Malleus Maleficarum (o martelo das Bruxas), dos tempos de Inquisição, até os textos que os eugenistas, nazistas e outros ''istas'' nos legaram. E o fogo que, outrora, incendiou as bruxas tornou-se câmaras de gás, e os métodos de tortura agora se aprimoram em novos campos de exceção imperialistas.

Um exemplo do processo de formação e construção do preconceito vem por exemplo da idéia de ''raça pura''. A releitura de um excelente texto sobre o tema é o livro de Pietra Diwan, que o sobrenome me atrai pelo homônimo divã. Um divã onde o livro traz a tona um personagem do movimento eugênico brasileiro: o médico e farmacêutico Renato Kehl. Este senhor teve muitos amigos ilustres. E muitos eram escritores famosos. O que mais me tocou foi a sua relação estreita com o ''nosso'' Monteiro Lobato. O livro Raça Pura é, por isso, hoje um motivo de constantes re-leituras de meus conceitos e pré-conceitos.

O que você(s) pensaria(m), se pudesse(m) controlar seus pre-conceitos, ao ler o que Lobato afirmou? O nosso escritor escreveu: "[...] país que nasce torto não endireita nem a pau. A receita [...] para consertar o Brasil é a única que me parece eficaz. Um terremoto de 15 dias, para afofar a terra; e uma chuva de... adubo humano de outros 15 dias, para adubá-la. E começa tudo de novo. Perfeita, não?". 

Esta é uma parte de uma missiva (carta) de Lobato para Kehl, que teve seu livro " A Cura da Fealdade" publicado, em 1923, trazendo na sua capa o subtítulo: Eugenia e Medicina Social. Logo abaixo do título pode-se ler: "A sciencia de Galton é o pedestal da religião que tem por escopo a regeneração da humanidade''. Um livro publicado por Monteiro Lobato&Co. Editores, em 1923, São Paulo, SP.

Espero que esta informação tenha os tenha chocado assim como me chocou. Eu que li toda a obra, ainda nos tempos da ''escola primária'' pude constatar o motivo do banimento hoje dos pré-conceitos lobatianos do ensino fundamental brasileiro. Espero, também, que incomode aos que estão negando a presença de preconceitos e de racismos, ora sutis ora gritantes, na obra do autor reconhecido.

Acredito e desejo que tenhamos desenvolvido uma crítica, que até poderá ser chamada de preconceituosa, sobre o uso da escrita e da informação para fins ideológicos e intolerantes. Alguns defenderão que a época era propícia para estes posicionamentos ou crenças. Mas assim se defenderam os defensores da Ku-Klux-Kan e dos Apartheids. Assim se defendem os deputados racistas, saudosos dos Anos de Chumbo, ou evangélicos homofóbicos, temerosos. 

Os anos 20 e 30 do século passado ainda estão presentes no século XXI. Temos, porém, de relembrar que nesse mesmo período e época é que se desenvolvem os melhores escritos de pensadores como Freud e alguns outros demolidores de preconceitos. Nessa direção é que deve-se pensar a raíz dos preconceitos e da intolerância. Estas raízes sâo e foram apenas a utilização da des-informação dos ''cultos'', e podia se tornar um simulacro. 

Nossos ''escritores'', como os eugenistas, construiam teses, ocupavam espaços das letras e da cultura. Eles eram impregnados pelas informações, a maioria de origem eurocêntricas e racistas, e as torciam ou distorciam de acordo com os mais arraigados pre-conceitos em suas mentes e vidas. O contágio de idéias de eugenia e higiene mental caminharam, abertamente, de braços dados nos primeiros anos do século XX. A medicina e a educação estiveram mais unidas do que antes na busca de "um povo branco e eugenicamente belo".

Talvez, com um pouco de paciência e persistência, possamos reencontrar nos discursos atualizados por deputados ou moralistas religiosos a pretensa Sociedade Eugênica de Kehl ou Lobato. Os eugenistas tinham, assim como uma Onda higienizadora, como pretensão: "Os intuitos da doutrina eugênica podem ser resumidos nos itens: 1º- fazer com que pessoas bem dotadas (geneticamente) ou, mais claramente, as pessoas fortes, equilibradas, inteligentes, portanto de linhagem hereditária sadia, tenham o maior número de filhos; 2º - que as pessoas inferiormente apresentáveis (doentes, taradas e miseráveis) não tenham filhos." 

Hoje, biopoliticamente classificado, permanecem em uma multidão de 16 milhões dos que sobrevivem na ''pobreza extrema'', na sua maioria composta por negros e pardos. Essa multidão deve ser erradicada. Com ou sem preconceitos? 

Como vemos a questão do preconceito tem e teve muitas nascentes. A gênese que me interessa é a que parte dos nossos âmagos, aquela que se entorpece e se alimenta de nossas estranhas entranhas humanas. É o que fazemos quando naturalizamos o que nos é ensinado e transmitido, sem construção crítica e auto-crítica. 

O melhor exemplo é que fazemos com as famosas frases de senso comum, aquelas que até o criador do Sítio do Picapau Amarelo torna em ''verdades universais'', como a de que nós brasileiros e o nosso país ''já nascemos tortos'', ou melhor deficientes ou anormais. E como devemos, preconceituosamente, sermos ''endireitados''? Tornando nossos olhos azuis e nossos cabelos ''ruins'' em longas e lisas cabeleiras nórdicas ou arianas?

Milton Santos nos indica uma reflexão indispensável sobre as Cidadanias Mutiladas no processo brasileiro de construção de sujeitos políticos. Ele afirma que: "A instrução superior não é garantia de individualidade superior. A cidadania não é garantia de individualidade forte. Nem a individualidade forte é garantia de cidadania e liberdade...". 
Assim como é, diz ele, ''o meu caso'', pois: "O meu caso é como de todos os negros deste país, exceto quando apontado como exceção. E ser apontado como exceção, além de ser constrangedor para aquele que o é, constitui algo momentaneo, impermantente, resultado de uma integração casual."

Por isso é que afirmo, apesar de minha instrução ''superior'', que devo ser ainda, por alguns, visto e lido como uma 'diferença' ou exceção. E, aí residem as prováveis análises das situações de preconceito no Brasil. Estas devem ser fundamentadas em um estudo da formação sócio-econômica brasileira. 

Eis um tema ao qual o amigo Vinicius tem como predileção e investigação. Mas ele também pode vir a ser visto como exceção. A sua condição de um economista com uma deficiência física pode ocupar a mesma noção de superioridade em um tempo, se falarmos dele como um Doutor da Unicamp, porém, em nossas mentes preconceituosamente alimentadas, podemos mantê-lo preso a sua cadeira de rodas e à inferiorização dos eugenistas por sua condição diferenciada.

Nesse instante, a Tv nos anunciam o programa do Governo de ''erradicação da pobreza extrema" e a construção de novos mapeamentos da miséria brasileira. Louvável, se pudermos aliar a esta ação biopolítica o reconhecimento da manutenção das misérias humanas que se alimentam vorazmente dos preconceitos, da intolerância e, em tempos midiatizáveis da Era do Acesso, da desinformação e alienação de milhares de cidadãos e cidadãs.

Há, para além de macropolíticas, a presença de um clima internacional contra as raças consideradas ''inferiores''. A intolerância vai além da raças e etnias. Os preconceitos se retroalimentam na globalização e no fomento de guerras de falsa liberação das ditaduras, a exemplo da Líbia. Por isso, perversamente, naturalizam-se os preconceitos, os racismos e as discriminações. Eles continuam a ser os ''bárbaros'' e nós, ocidentalmente, os ''civilizadores''? A fome de lá é diferente da fome de cá?

Nós temos também fome de um outro modo de aprender sobre a exclusão social. O que seria um grande aliado deste programa será a garantia, além da água, do saneamento e da moradia, deve ser a indispensável inclusão escolar. 

É urgente a afirmação de uma educação em e para os Direitos Humanos. Eis, a meu ver, um antídoto a ser aplicado a todos e todas na construção de uma erradicação do melhor fermento para os preconceitos: a idéia de que os mais pobres são e serão sempre ignorantes, portanto, eugenicamente inferiores. 

E aplicado o antídoto inclusivista, quem sabe a Terra Brasilis não se abalará por ''tremores lobatianos'' para afofar o solo e sepultar essas massas. Essas massas humanas que tanto incomodam aos mais abastados e ricos, a exemplo do metrô em Higienópolis, assim como aos mais extremistas que repetem discursos fascistas, xenofóbicos, homofóbicos ou racistas.

Que tal, implicado ao Plano Brasil Sem Miséria, termos um plano ativo de um Brasil Livre dos Preconceitos? ou isso nos custa, individual e coletivamente, um esforço que vai além dos recursos econômicos? O Brasil pode ter nascido torto, como a árvore que deu nome, como muitos dos ''defeituosos'' e suas raízes genéticas, mas não será seu "endireitamento" que trará soluções, nem micro e nem macropolíticas, mas sim uma construção ativa de novos e reais espaços de liberdade e dignidade... 

E,então,nascida nas escolas, nas esquinas, nas ruas e nas mentes... E todas as marchas serão respeitadas e diferenciadas. E todos os pobres, e as nossas misérias, torna-se-ão visíveis.


copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres na Internet e em outros meios de comunicação de massa)

Para ler, conhecer e difundir as idéias de Vinicius Garcia (ainda presidente do CVI- Campinas e permanente ativista do Movimento de Vida Independente)
Blog - Três Temas - http://vggarcia30.blogspot.com/

A Onda - filme de Dennis Gansel (2008) -
http://moviesense.wordpress.com/2009/02/25/die-welle-the-wave-a-onda/

Cinema | O filme "A Onda" numa perspectiva educacional
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/arte_cultura/cinema/leonardo_cinema_11_a_onda

Malleus Maleficarum - livro publicado pela Inquisição em 1487, três anos antes da descoberta do Brasil, e que ''diagnosticava'' as mulheres consideradas bruxas ou feiticeiras. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malleus_Maleficarum

Leia também no Blog -
Inclusão, Racismo e Diferença
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As Seleções: os Estádios, os Paradigmas e um novo Game 
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A Parabóla da Rosa Azul
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