quarta-feira, 26 de junho de 2013

FUNDAMENTALISMO, FASCISMO E INTOLERÂNCIA SÃO INCURÁVEIS? E OS GAYS?

Imagem publicada- uma foto de minha autoria, que denominei de uma Saudação ao Futuro? Primariamente colorida, transformada digitalmente em preto e branco, como nos Anos 60. Foi feita durante a manifestação popular aqui em Campinas, no dia 20 de junho de 2013. É o instante de um jovem com o braço erguido, com vários cartazes à sua volta, e se destacava um deles: Feliciano sai do armário. Há nesta foto, para mim, um movimento dos corpos que protestavam, indignados, na rua contra muitas das violências invisíveis a que todos e todas fomos e somos submetidos. Existe também nela uma reprodução de uma saudação com os punhos cerrados. Este gesto foi feito por negros, por brancos, por diferentes seres humanos. Teve a cada tempo uma simbologia. A que me ligou o olhar foi a que lembra os braços em ordem e progresso, alinhados e serializados dos tempos fascistas da nossa História ocidental. Ou será uma história acidental? Uma história repetitiva? ou um alerta para novos Fascismos?

Não dormi direito esta noite novamente, e acho isso vai continuar. Eu tive um motivo extra para minha insônia já cotidiana. Passei um tempo tentando usar as comunicações das redes sociais para levar um pouco de minhas reflexões. Podem dizer para que os meus leitores e leitoras tenham paciência, fôlego e persistência. Os temas acima me exigiram também emoções.

Ainda tento modificar e questionar a constatação de Bauman: “Nenhuma das explosões populares de protesto estimuladas pela Internet e eletronicamente ampliadas conseguiu remover os motivos da raiva e do desespero das pessoas”. Será?

Os discursos extremados e extremistas, que trouxeram um cheiro podre de golpe e de re-militarização da vida esses dias, me provocaram. Meu/nosso cartaz na manifestação era: “64 Nunca Mais – Direitos Humanos Sempre”!

Eis-me refletindo sobre a nossa força virtual ou presencial nestes dias de apaixonadas manifestações por todo o país. Por isso temos agora, após as suas espetacularizações, um momento impar de diálogo aberto com o que chamamos de Governo.

Temos a rara oportunidade de uma maior politização social, e, por conseguinte, do ato de esclarecer nossos concidadãos, brasileiros e brasileiras, sobre as midiatizações bem ou mal intencionadas. O momento é de combater e denunciar, principalmente, os atos de Intolerância e Terror Policial que foram, estão e podem sendo cometidos no país.

Disse concidadãos (ãs) para não usar o termo compatriota. O patriotismo já revela e revelou nos seus “ismos” recentes como os slogans fascistas nele podem se esconder. Lembre-se de cartazes ou faixas que dizem: -“Meu partido é o meu País”. Os fascistas gostam de homogeneidade e desaparecimento de qualquer manifestação de diferença.

Os criadores dos partidos Fascistas na Itália ou na Alemanha também utilizaram a ideia inicial do apartidarismo como forma de captura, por exemplo, dos desejos das massas italianas ou alemãs, principalmente os jovens. Depois propuseram a ideia do Partido único e hegemônico.

Por isso seus líderes máximos tiveram seu apogeu nos períodos de guerra na Europa, no início do Século XX. E arrastaram o Mundo e arrasam muitas massas. Na construção de seres matáveis e sacrificáveis, como no Holocausto, eliminaram muitos corpos considerados ou impuros eugenicamente ou inúteis.

Uma grande Onda, um Tsunami ideológico, conquistou e envolveu o “povo”. Essa massa humana, presa às inflações econômicas e éticas, tinha a crença de uma “nova” forma de populismo ultranacionalista.

Uma massa que se considerava uma verdadeira “floresta” em marcha, um exército a ser invencível, um grupo de eleitos por outra massa inflacionada que poderia “salvar” todo o mundo e dominá-lo.  Porém precisavam de culpados por suas falências.

Essas inflações, com várias origens, inclusive as crises monetárias, foram imputadas aos “diferentes”: fossem judeus ou comunistas, pessoas com deficiência ou homossexuais, ciganos ou dissidentes políticos, todos, ideologicamente, foram, cada grupo ao seu tempo, “incluídos no estigma de insetos nocivos para a Sociedade”. Tornaram-se o “mal” a ser eliminado.

Após a retomada de alguns textos importantes para nossas reflexões, e a análise mais detalhada das fotos que fiz no dia 20 de junho, no início da manifestação aqui em Campinas, amenizei as outras dores do meu corpo e mente conectados com as massas.

O título escolhido para este texto é uma provocação para a urgente compreensão das raízes subterrâneas, não rizomáticas, duras e nefastas que já estavam sendo plantadas contra esse movimento popular histórico. Não há mágicas para explicar essa explosão, esse “enxame humano” que está ocupando as ruas do Brasil. Há é gêneses políticas e socioeconômicas. Não são só os 20 centavos do MPL.

Reli e sugiro leitura urgente alguns capítulos do livro TEMPOS DE FASCISMOS. Lá há uma importante conceituação sobre a INTOLERÂNCIA. Este termo é transversal tanto para os Governadores, como Cabral ou Alkmin e outros, como para outros gestores, e, principalmente para o tipo de Polícias, repressões e Políticas que estão em ação no Brasil.

A INTOLERÂNCIA, em um importante glossário e dicionário construído na Itália, durante os ANOS FASCISTAS de Mussolini, em uma visão enciclopédica, é definida como sendo: “a atitude de quem, tanto na religião como na política, sente um apego tão forte às próprias ideias, opiniões, sentimentos, que não pode admitir de nenhuma maneira a MANIFESTAÇÃO de um pensamento diferente, ao qual, com base unicamente em tal deformidade nega qualquer validade...”.

O interessante e histórico é que esse verbete, que faz parte da Enciclopédia Italiana, criada à sombra do regime fascista entre 1929 e 1939, foi escrito por Alberto Pincherle, um professor judeu de história das religiões na Universidade de Roma, e depois na de Cagliari. Ele próprio sofreu perseguições e foi vítima da intolerância fascista. Foi afastado do mundo acadêmico em 1938. 

Foi excluído pelo decreto de expulsão de todas as “pessoas judias” da escola italiana de qualquer “grau ou ordem”. Por aqui essa perseguição, com muitos exilados, torturados ou presos, foi o mote dessa caça aos “professores comunistas” ou “vermelhos (simpatizantes de partidos de esquerda)” em muitos períodos da Ditadura Militar.

A definição de Pincherle tem o cuidado de esclarecer ainda mais esse mecanismo e atitude tão atravessador das histórias do mundo. Por negar qualquer validade a outras formas de pensamento é que os intolerantes: “... considera(m) também a polêmica apenas como um meio destinado a uma finalidade mais geral. Tal atitude nasce da convicção de possuir uma verdade absoluta e imutável, por isso a intolerância distingue-se também da intransigência, que é predominantemente de ordem prática...”.

Para um mundo que vem assistindo como diz Giorgio Agambem uma perpetuação do que ele denuncia: “... A tradição dos oprimidos nos ensina que o Estado de Exceção em que vivemos é na verdade uma regra geral. Precisamos construir um conceito e História que corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é criar um verdadeiro Estado de Emergência”.

Porém o que estamos hoje, ouvindo, assistindo e promovendo é uma ‘urgência de outro Estado’, e os ‘golpistas’, aliados aos fundamentalistas, reivindicam o trono e a glória. Anunciam-se como donos da Verdade, não a da Comissão, como os arautos salvadores de um Brasil Novo, quiçá um Estado Novo remodelado.

E, para aplacar essas ondas e massas, com múltiplos interesses ou reivindicações, o Governo Federal e nossa Presidente se apressam na proposição de pactos e de um Plebiscito. Porém o que permanece claro para os indignados, agora mais provocados ainda, é que se associam os governistas hegemônicos, PT e aliados, com os que querem evangelizar o Planalto.

O protesto que se anuncia, quando os 20 centavos, a PEC 37 e um novo ordenamento político anti-corrupção se pronunciam, momentaneamente, solucionados, agora é pela luta contra a intolerância e fundamentalismo na recente aprovação da chamada “Cura Gay”.

E um ícone pastoral surge, novamente, para além dos cartazes e faixas como o novo “inimigo do povo” a ser derrotado. Porém corremos um risco aí da suposta ingerência do Executivo no Legislativo, que não se fez e nem se fará, e o Feliz sem ano continuará, mesmo a contragosto popular, “gerenciando” felicianamente os Direitos Humanos e as Minorias.

Por isso associei a não “cura” possível desses “males”: o fundamentalismo religioso e os fascismos. As suas raízes “pangenéticas”, ou seja, múltiplas, nascem, pelo que aprendemos da História, do próprio desejo das massas.

No verbete intolerância ainda podemos compreender melhor essa faceta, esse rosto de Jano dos intolerantes, fascistas e fundamentalistas. Para eles, como foi definido por Pincherle: “... A intolerância, em outros termos, pressupõe uma ortodoxia, ou seja, trata-se não somente de defender a verdade, mas impedir que os outros caiam em erro (acrescentaria o Pecado), considerado por si só pernicioso, aliás, o pior dos males, a ser evitado mesmo a custo de consequências gravíssimas.”

Foi essa a gravidade de uma sorrateira ação fundamentalista do Pastor. Foi e é nessa forma de intolerância que não deve ser apenas quanto às escolhas ou modos de vida sexual, que uma Comissão de “Direitos Humanos” alegou o direito de escolha para serem curados os que considerarem suas homossexualidades um “mal a ser curado”, mesmo que isso implique em uma nova forma de “castração psicológica” ou “arrependimento de um grave pecado”.

Caso não consigam entender como podem ser fascistantes estas perigosas ações dos fundamentalistas, reforço que eles/elas, muitas vezes investidos de nossos representantes, se outorgam ter, por Amor, a capacidade de escolher o que é melhor para os outros mortais. Basta que lembremos que suas palavras são meras repetições de suas Bíblias, suas afirmações são mais que ortodoxas, são dogmáticas. As suas bocas vociferam A VERDADE.

Por isso, não podemos cair na ‘pastorfobia’, na ‘deputadofobia’, na ‘políticofobia’. Não tenhamos essas arrogâncias ou “doenças” fascistantes. Estes, dessa lista, querem impor sua verdade, como vimos, e se tornam totalitaristas. Hoje se transmutam em utilitaristas já que muitos dos seus eleitores são apenas “consumidores” de suas pregações e convicções. E, muitos creem neles ou nelas.

Para fanáticos ou fascistas não há nem diversidade, nem diferença, somente uma identitária e ortodoxa igualdade... Vestem os mesmos uniformes, ternos ou longas saias encobridoras de desejos, aspiram purezas imaginadas em corpos doutrinados, marcharam no mesmo passo repetitivo e alienante.  

Por isso podem destruir com a mesma dureza quaisquer uns que lhes pareçam ser ameaça às suas verdades. São, porém mais sutis que os partidários de Mussolini. Os novos campos de exceção ou de doutrinamento primordiais foram montados em velhos cinemas. Lá já encontraram o palco e a tela. Os seguidores já sabiam previamente do Espetáculo.

Um espetáculo, na Alemanha , denominado Triunfo da Vontade, que uma cineasta alemã, Leni Rienfenstahl soube muito bem, em 1934, captar no e para o Nazismo. Apenas localizou e ampliou os ângulos de crescimento e força das massas nacional socialistas de Hitler. E, magistral e cinematograficamente, valorizou um gesto: Heil Hitler! E multidões, muito bem adestradas e serializadas, gritavam em uníssono em grandiosos cenários públicos, como o de Nuremberg.

Tomemos, portanto, cuidado ao erguermos nossas mãos. Podemos estar realizando o mesmo movimento, a mesma ONDA, os mesmos símbolos e as mesmas intolerâncias que Mussolini ou Hitler propunham para os Fascistas e os Nacionais Socialistas. 

Temos nas vivências mais simples a possibilidade de reproduzir esses tiranos, mesmo nas nossas mais microscópicas relações. Essas microfascistações estão no âmago dos seres humanos  ditos modernos e revolucionários.

Esse é, então, o mesmo cuidado e carinho que devemos ter ao buscar no movimento atual das multidões brasileiras. Não podemos generalizar ou simplificar. Há uma complexa engrenagem social, econômica e um grande Analisador Histórico em ação.

Não estamos nas barricadas da Comuna de Paris, em 1867, como no filme os Miseráveis, muito menos na Presidente Vargas de 1964. Só não podemos nos arvorar a reproduzi-las, pois já deveríamos ter aprendido algumas coisas, por exemplo, como são analisadoras essas lições das ruas e das “revoluções” populares do passado da Humanidade.

Os analisadores históricos são importantes para trazer à tona as partes submersas dos ‘parcialmente’ visíveis icebergs das sociedades. Ontem, antes de ontem e, quiçá, amanhã as mídias simplificaram e naturalizaram como Vandalismos as violências dos violentados. 

Ocorreram e ocorrerão exageros e depredações. Foram e serão reativas, assim como provocativas, a uma eficiente máquina policial repressora chamada de Choque. A mesma que troca a munição de borracha por chumbo grosso quando entra na “pacífica e higienizadora” tomada das favelas.

O cenário que se construiu, midiática e espetacularmente, aproximou-se do chamado Caos. Este caos de fumaças, bombas, lágrimas violentadas, corpos arrastados e outras violências visíveis e tele visíveis, forma anunciados como a antevéspera dos fins e dos apocalipses.

Eram, a meu ver, apenas resultantes dessas mútuas intolerâncias surgidas de confrontos políticos latentes. E do lado dito popular tenho minhas indagações certeiras sobre suas infiltrações fascistantes e direitistas. Os que se chamam de “carecas”, em outros confrontos, por exemplo, gostam desses exercícios de força e de lutas. Eis um exemplo de intolerância que se encaixa “perfeitamente” no conceito de Pincherle.

Esses, em suas homofobias e racismos múltiplos (de negros a judeus, passando por moradores de rua e gays), são um exemplo típico da violência intolerante. Lembremos que, recentemente, isso foi evidenciado pelos ataques a homossexuais por skinheads na Avenida Paulista e outros locais do Brasil. São, porém, apenas  a ponta minoritária do iceberg dos fanatismos políticos fascistas.

Os episódios dos Choques que foram e estão sendo explorados midiaticamente, geram falas endireitadas e perigosas, a ponto de termos de ouvir um SemAntena falar sobre a urgente “hora da revisão Constitucional” diante da “falta de política e de políticos honestos”. Hora da generalização e do sensacionalismo.

Outras redes de televisão exploram os diferentes focos de fogo ou insurgência popular, e, novamente os manifestantes tornam-se os porta-vozes de uma “urgente reforma política, com novas eleições”. 

E as redes sociais reproduzem até o pedido de Impeachment a la Collor. Começam dizendo que a marcha é “pacífica”, mas têm os vândalos infiltrados para provocar uma dura repressão. A energia desse “fogo” das ruas deverá ser aplacada.

Discursos competentes que reproduzem, a meu ver, também essas intolerâncias subjacentes e não visíveis dos atuais movimentos e manifestos. E o discurso “oficial”, vem dias depois, se associar a esta fala televisiva que nos distancia de uma real visão analítica implicada dos acontecimentos. 

Como acalmar os ânimos dos rebeldes? Como responder ao “clamor” dessas massas? Novos pacotes, novos acordos, novos pactos, novas leis, novos endurecimentos da governamentabilidade ameaçada?

Há como já escrevi, relembrando um texto de 25 anos atrás, a insurgência e a emergência dos rancores reprimidos contra o Estado de Exceção. É aí que corremos o risco do amor fanático à Cólera coletiva. E todos levam a mão ao peito, erguem o punho, e cantam emocionados o Hino Nacional. A que ou ao que estamos e estaremos saudando? Ou o que e quem esperamos salvar?

Surgem, portanto, nesse cenário de força criativa das multidões, dois caminhos possíveis: a despolitização dessas massas ou a sua hiperpolitização falsa ao lhe dar um caráter de totalidade de todo um “povo brasileiro”. 

Nem a aversão aos partidos e seus/nossos representantes como solução, nem a ideia e pensamento mágico de mudança utópica apenas pela nossa expressão massiva de opiniões e queixas do Estado e seu modelo democrático.  Há alguma forma de “cura” profilática ou higienizadora que dê conta dessas convulsões sociais?

Não podemos ter a pretensão totalitária de “curar” as atitudes dos que agora dizem ouvir as ‘vozes e clamores da multidão’.

Os manifestantes, segundo a Globo emitem “gritos de guerra”. Já estão gritando velhos e conhecidos refrãos pelos direitos civis. Todos dizem: , ARROZ E FEIJÃO! SAÚDE, EDUCAÇÃO. Porém a transversalidade do momento histórico nos revela que a descrença na política e nos políticos não se resolve de forma vertical e hierárquica.

“Eles” lá no PlanALTO  e nós sob os paralelepípedos, blocos de cimento ou asfalto das ruas intensificadas.

A história nos diz que, em 1968, quando éramos “os jovens”, ou apenas meninos e meninas sonhadores, sob as pavimentações das ruas estavam intensos e múltiplos sóis ou luas. Os novos tempos demonstram que há uma micropolítica emergente, milhares de intensidades se manifestando ao ar livre.  A Rocinha, que não é rural, só pede saneamento básico, saída para os esgotos que se derramam no mesmo mar do Leblon, no Rio de Janeiro.

Porém como já disse há a permanência de alguns fanáticos ou fascistas e suas intolerâncias que nos querem “manter engarrafados”, não apenas na Marginal como marginais ou periféricos.

Querem é nos asfixiar com suas “verdades” fundamentalistas. E, asfixiados por estas bombas e gases invisíveis deixarmos a indignação de lado. Então, novamente seduzidos pela Sociedade do Espetáculo e do Controle passarmos para o seu caminho endireitador e biopolítico de corpos em serialização.

Não se derrubaram Pinochets, Médicis, Videlas e outros generais fascistas e suas ditaduras apenas com a molecularidade revolucionária dispersa das ruas ocupadas. Elas foram, são e serão indispensáveis. Segundo Canetti as multidões tem como metáfora as fogueiras. E se o fogo for cívico ou tender para o fanatismo fará com que tenhamos o resultados históricos diferentes dessas labaredas das massas.

Escrevi hoje sobre um cidadão que resolveu quebrar a calçada de um órgão público, uma Secretaria da Saúde, para construir ali um direito por ser um cadeirante: uma rampa. Disse a respeito da matéria: “- um homem sozinho pode quebrar algumas ou muitas barreiras... entretanto, quando as gotas de água do Rio humano se unem e aglutinam podemos até transformá-las em cascatas, cachoeiras, TROMBAS D'ÁGUA, em ENCHENTES DE GENTES...”.

Vamos lembrar que um pequeno grupo de mães e avós, uma gota lúcida nas águas turvas da Ditadura Argentina, chamadas de “loucas”, as Madres e Abuelas de Mayo, conseguiram, também, denunciar e combater os desaparecimentos políticos da co-irmã ditadorial dos Anos 70. Mantêm sua roda em frente à Casa Rosada até este instante de hoje. Os fascismos e fanatismos em nós precisam de combate cotidiano e persistente.

Aprendemos que, mesmo denominada Las Locas, persistiram e não arredam os pés e lenços da sua vigília cívica na Plaza de Mayo.  Aqui no Brasil também já temos nossas Mães de Maio, lutam por, em e para Direitos Humanos. Também viram seus filhos serem assassinados.

 Nossas mães têm uma história que as motiva e alimenta como às argentinas, lutam, cotidianamente: “Em memória das 13 vítimas da Chacina da Maré e do jovem Jackson de Itacaré-BA (25/06/2013), das 3 vítimas da Favela Funerária (22/06/2013); das 8 vítimas da Baixada Santista (última semana) e demais vítimas da repressão em todo Brasil”.  Serão também chamadas de “malucas”, “loucas”, “doidas”?

Até quando estamos dispostos a manter nossas passeatas e manifestações para além do virtual, para contrariar algumas expectativas oficiais, para além das redes sociais ou dos outros modos de distanciamento do Outro e da política?

Não poderemos curar os pastores homofóbicos, se ficarmos imobilizados, pois seus corpos e mentes já foram ou se sentem salvos. Não há como dizer para eles que não existe essa Verdade absoluta e totalitária de um mundo só de seres totalmente idênticos e iguais. Muito menos lhes explicar o que significa e se enraíza neles de uma adoecida e envelhecida intolerância brutal.

Oportunamente, diante das manifestações que usam seu nome nas faixas e cartazes, o Infeliz Sem Ano, anuncia, provavelmente com seu cartel já instalado em Brasília, que “não existe cura gay, pois a homossexualidade não é uma doença”...

Porém, homossexuais, lésbicas, transexuais, travestis e outros desviantes sexuais, continuarão sendo alvo da intolerância, por pastores homofóbicos e seguidores, como uma “aberração” contra os princípios de uma verdade bíblica e dogmática. Estes cidadãos e cidadãs são “amaldiçoados”, e nós, os negros também nos incluímos aí...

Provavelmente irão, diante das iras populares incendiadas, que a mídia oficial chamou de “vândalos”, enterrar esse projeto que autoriza a chamada “cura gay”, com tratamentos psicológicos. Não dirão que há, no magma destas terapias, um passado de lobotomias, eletrochoques, experimentações médicas, castrações, tratamentos hormonais, trabalhos forçados, reconversão com uso de prostitutas, extermínio e campos de concentração.

A construção da Anormalidade sempre justificou medidas terapêuticas biopolíticas, panópticas, manicomiais, de isolamento social, repressivas e, se necessário, de eliminação dessas Vidas Nuas. Como recurso final, deveríamos internar compulsoriamente estes anormais?

Concluo, então, que os PASTORES FUNDAMENTALISTAS, RACISTAS E HOMOFÓBICOS, NÃO TÊM “CURA”, ASSIM COMO A INTOLERÂNCIA E O FASCISMO. Não podemos usar a sua lógica perversa e aética  para aplicar a eles a mesma terapêutica ou conversão.

Todos têm história, enraizamento, plateia, seguidores e formam outra “rede” ideológica, como uma cruzada, na qual querem “incluir” todo o MUNDO... E CONTINUAREMOS ASSIM, OS INFIÉIS, OS ÍNDIOS, SEM O DEUS DELES, MORTAIS E TERNAMENTE INCURÁVEIS.

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013/2014/ ad infinitum, atualizado e revisto em 11 de janeiro 2023, após invasão do Congresso, Palácio do Planalto e STF por bolsonaristas insuflados por seu fascismo- Todos os direitos RESERVADOS (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de Massas)

Notícias na INTERNET conectadas no texto:



Tempos de NeoCura Gay - Terapia de Reversão Sexual incluiram Lobotomia, Choques e Castração, é desumano!

PARA OS QUE AINDA LEGITIMAM, usando inclusive a Constituição, o retorno a um passado de preconceito, eugenia e intolerância - recomendo a leitura de Triângulo Rosa — Um Homossexual no Campo de Concentração Nazista https://acervo.revistabula.com/posts/livros/triangulo-rosa-um-homossexual-no-campo-de-concentracao-nazista

Hoje(01/10/2011) na História: 1944 - Nazistas iniciam experiências de castração em gays nos campos de concentração https://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/15630/hoje+na+historia+1944++nazistas+iniciam+experiencias+de+castracao+em+gays+nos+campos+de+concentracao.shtml

Para quem não leu a HISTÓRIA E AS SUAS RAÍZES- Nazistas tentavam 'curar' gays com prostitutas e tratamento hormonal https://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2013/06/1297868-nazistas-tentavam-curar-gays-com-prostitutas-e-tratamento-hormonal.shtml


Resposta do Movimento Mães de Maio ao convite da Presidenta Dilma Rousseff para importante reunião! https://racismoambiental.net.br/2013/06/resposta-do-movimento-maes-de-maio-ao-convite-da-presidenta-dilma-rousseff-para-importante-reuniao/

LIVRO CITADO –

TEMPOS DE FASCISMOS – Ideologia – Intolerância – Imaginário – Maria Luiza Tucci Carneiro & Federico Croci (Orgs.) – Editora EDUSP, São Paulo, SP, 2010.

FILME citado no texto –
O TRIUNFO DA VONTADE (TRIUMPH DES WILLENS) – Leni Rienfenstahl – 1935 - DVD- Excertos do filme https://www.youtube.com/watch?v=KQxKvg_CDLQ

LEIAM TAMBÉM NO BLOG –


MOVIMENTOS, MASSAS, MANIFESTOS E HISTÓRIA: POR UMA MICROPOLÍTICA AMOROSA URGENTE 
A PRAÇA É DO POVO? AS RUAS SÃO DOS AUTOMÓVEIS E ÔNIBUS? E OS DIREITOS HUMANOS SÃO DE QUEM?

A TOLERÂNCIA É MAIS QUE UM BACALHAU NO MEU ARROZ COM FEIJÃO? – EM BUSCA DA EMPATIA, PARA ALÉM DA ANTIPATIA... https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/07/tolerancia-e-mais-que-um-bacalhau-no.html

A COREIA DO FANATISMO POLÍTICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR: ESTAMOS NO SÉCULO XXI?
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/04/a-coreia-do-fanatismo-politico-e-o.html

sábado, 22 de junho de 2013

ABRAM A PORTA DA SALA... A RUA ESTÁ ENTRANDO POR ELA.

Imagem publicada – uma fotografia em preto branco de um homem, de camiseta, segurando potentes binóculos, apoiados sobre um tripé, junto a uma janela, como quem olha alguém ou alguma coisa à distância, porém curiosamente. É um dos trechos do filme Memórias do Subdesenvolvimento, do cineasta cubano Tomás Gutierrez Alea, no período pós-revolucionário, em 1962, em Cuba. Uma Revolução pode mudar um país, entretanto, quando se tornar micropolítica poderá também ser a liberdade de um sujeito ou cidadão(ã), uma pessoa, um indivíduo? Pode se tornar um devir?

SOMOS NÓS OU É O BRASIL QUE MUDOU? OU MUDAMOS JUNTOS? OU MUDAREMOS?

Pode o Cinema nos ajudar a compreender e questionar nossas produções de subjetividade? Podem os filmes ser tão marcantes, a ponto de ser como um bárbaro que invade nossos Impérios narcisistas e destrói todas as nossas defesas? Pode esses convidados e desejados invasores de nossos inconscientes abalarem nossas confortáveis posições de meros espectadores? Espectadores que vão às telas, inclusive às atuais tele telas, apenas em busca do sonho ou da fantasia, os que pensam que querem apenas sonhar?

“HOJE é apenas mais um dos dias seguintes, aparentemente menos ruidosos e “bombásticos”, quando tudo “volta à Normalidade e à Rotina”. Tudo como dantes nos quartéis e nas casas. Um bom dia para irmos ao Cinema, esse calmo e frio dia, depois do quente e incendiado 20 de junho de 2013. Ou será apenas um bom momento para se refletir sobre as ruas e as massas que as ocuparam ontem e antes também, usando o Cinema?

 Tenho me lembrado, no calor do Fogo do Passe Livre, de uma cena cinematográfica.  É aquela lá em cima, apenas um homem na janela, com os binóculos telescópicos, de seu apartamento, distanciado e protegido de uma revolução que ocorria lá na ruas.

É uma das muitas cenas emblemáticas do filme, já transformado em cult, “Memórias de um Subdesenvolvimento”. Uma memória do meu desenvolvimento político, em tempos do amadurecimento forçado após os Anos de Chumbo. Anos que necessitavam e necessitam da palavra implicação e da perda de temores, quiçá de muitos amores políticos e revolucionários.

O filme é uma boa metáfora e alegoria para o que ainda está ocorrendo no país. Estamos tele assistindo a essa magnífica e analisadora ação das jovens massas ocupando as ruas?

 O personagem central da película, Sérgio, aos 38 anos, se vê sozinho e abandonado por sua mulher e família que “fogem” para Miami. A sua cidade, Havana, o seu país, Cuba, estavam em um processo revolucionário. À distância ele podia ver cenários de ruínas como se os prédios fossem feitos de papelão. Fidel e Che Guevara derrubaram, pelas armas, a Ditadura de Batista.

A sua óptica da vida passa, então, a ser o olhar telescópico, que o protege das movimentações de massas e tropas vistas da sua janela burguesa. Uma sólida janela que hoje pode ser chamada de Classe Média Alta. Entretanto, como todos os mortais, Sérgio tem de sair, ou é obrigado a sair, um dia de seu casulo. E aí começam as aventuras, questionamentos e os imprevistos que trarão para ele toda uma inusitada poesia (poésis) e efeitos micropolíticos em seu corpo e mente.

Como ele, nestes tempos da Cultura do Medo, a princípio, ficamos muitas vezes temerosos,  ao sairmos de nossos confortáveis espaços domésticos. Estamos, os tele espectadores globais sendo chamados pelos manifestantes, com o Vem prá Rua, Vem! As nossas tele-visões, mesmo que globalmente maquiadas para serem assustadoras, são mais tranquilas que o risco das balas de borracha hiper certeiras em nossos olhos ou corpos não periféricos? 

A lógica que subjaz em nós ainda é diaspórica, como diz Zymunt Bauman, pois “não admira que muitos habitantes das cidades se sintam apreensivos e ameaçados quando expostos não apenas a estranhos (a vida urbana sempre significou estar cercado de estranhos), mas a estranhos de um novo tipo, nunca visto antes, e assim, presumivelmente ‘não domesticados’ e ‘ sem controle’, ameaças desconhecidas”.

Como o Sérgio e sua intelectualidade podemos estar assustados com esse ‘povo desconhecido’, pois, como em Esparta não são “homoi”, iguais em cidadania e direitos, mas sim os Outros, os “periféricos”, os que foram e são produzidos em massa. Tememos essa nova Horda? Diante dos instrumentalizados e úteis vândalos, tememos ter de repetir uma nova Ordem? Uma nova Revolução? Ou uma neo-ditadura militarizada e espartana?

Talvez, sim, pois podemos sentir o temor de sermos tocados. Todos nos sentimos mais próximos da xenofobia, o temor ao estrangeiro, ao que é considerado o outro que não fala a nossa língua, não come nosso arroz com feijão cotidiano. E o temor é muitas vezes o primeiro passo para minha intolerância ou radicalismo acerca dessa diferença de mim. E do meu Ego.

Há, contudo, momentos mais “quentes” de nossas Histórias onde se incendeiam as ruas, e começam a agir os “analisadores históricos”. O que aconteceu com o personagem de Alea é exatamente, a meu ver, essa ruptura da calma, da repetição neurótica, do cotidiano garantido e da segurança de não ser tocado, por nada e, principalmente, por ninguém. Mas ele precisa de, em algum momento, do chamado calor humano. A sua couraça afetiva lhe incomoda como as armaduras medievais. Ele “sonha” com seu país livre que agora o “aprisiona”.

Um contraponto interessante sobre como se “blindar”, isolar ou se refugiar diante de analisadores históricos das revoluções é o filme “Os Sonhadores”, de Bertolucci. Nele os possíveis encontros disruptivos e avassaladores, são expostos pelas triangulações afetivas, amorosas e sexuais.

 Nestes tempos pastorais, fundamentalistas e homofóbicos, por exemplo, estas multiplicidades e singularidades podem ser perturbadoras da ordem ou das normas, e, principalmente, dos nossos tabus. Tabus que são trans-históricos e hiper resistentes às mudanças, mesmo as revolucionárias e aos próprios revolucionários.

 No “Sonhadores” não há a solidão explícita e o individualismo sendo confrontados. Só a cena final nos situa no meio do fogo, nas intensidades de Maio de 68, em Paris.  A única coincidência é que ambos os diretores discursam, respeitadas suas linguagens e culturas diferenciadas, sobre revoltas e revoluções dos anos 60.

A transversalidade destes movimentos de massa revolucionária é exibida em flashes, como invasões da privacidade, como uma pedra que quebra um vidro, vindo do mundo em crise lá fora para os Sonhadores. Ou com o cubano sendo interrogado sobre suas condições de habitação, ou seu envolvimento sexual e afetivo com uma mulher do “povo”.

No filme de Gutierrez Alea, temos ainda uma diferença a notar, pois é a história de um homem solitário que aprende, poeticamente, a olhar os outros e as ruas com um novo e afetado olhar. 

Ele metaforicamente é uma parte do povo cubano que permanece na ilha. Insulado e isolado, a seu contragosto  aprende,  que ao se misturar com os Outros da Revolução e do cotidiano, pode se tornar mais humano, mais sensível, com mais humor e, consequente, com novas formas criativas e inusitadas de amor e de amar.

Alea mistura com maestria a realidade da Revolução com a re-evolução de Sérgio. O cinema documentário está presente, como História real, dentro da ficção.  Acho que se filmasse, como um Eduardo Coutinho, esse nosso momento quente e intenso das ruas, também nos denunciaríamos uma outra História que ainda está debaixo do tapete de nossas salas.

Somos então, nessa média idade, mais para bombeiros que incendiários, os “velhos” Sérgios demais à espera, de nosso “choque de realidades”? Ou somos e seremos jovens, a la Bertolucci, que montam uma barraca de lençóis dentro de um apartamento, onde outros choques, outras realidades também podem ser experimentadas?

O desmoronamento do mundo pequeno-burguês de Sérgio, assim o de muitos que se sentem ainda ameaçados pelas atuais massas chamadas de “vândalos”, é subjetivamente tão violento quanto as ruas. Muito embora não tenha, nele, um tiro e nenhuma morte. A grande confusão é a violência dos preconceitos do personagem. Ele tem de se descobrir apenas mais um nessa multidão em mudança histórica.

Outra óptica possível que o filme me evoca é a crítica aos rumos totalitários que a Revolução Cubana tomou. O anacronismo de Sérgio é a melhor crítica do diretor ao modelo socialista da ilha.  Pode ser visto também com uma refinada crítica ao nosso individualismo e narcisismo. Não nos permite acomodação conformista, por sua óptica documental histórica.

Convoca-nos, ou melhor, a mim me convocou, para sair da poltrona, abrir a porta e deixar as lufadas de intensidades vindas da rua. Eu o assisti nos Anos pós-Ditadura e de reconquista dos direitos humanos no Brasil. E as passeatas pediram Diretas Já! Não pintamos o rosto, mas o verde amarelo coloria nossos corações e corpos constituintes e instituintes.

Passar de testemunha ocular para um agente, um participante ou mesmo um agitador das ruas é um convite muito sério. Não podemos nos deixar levar pela simplificação, pelo momento acrítico e a despolitização que estamos assistindo pelos telescópios midiáticos modernos. A onda de jovens sonhadores que desejam “A” revolução não pode deixar de conhecer o antes da outra chamada Revolução em 64.

Não precisamos sair na capa das revistas ou dar entrevistas ou virar motivo de notícia urgente, mas podemos escolher qual a matéria real e verdadeira estará estampada ou difundida nesses meios de comunicação de massa. O foco sobre os atuais cartazes nos revelam ainda textos e contextos já vividos. Os problemas acumulados pela negligência macro política fazem parte dessa explosão de reivindicações.

Sim, todos queriam ARROZ, FEIJÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO. Porém, o grito e o slogan, agora, são da Ordem Econômica que nos Governa. São as passagens e o transporte e seu preço que ocuparam o centro das questões nesse modo hipercapitalista do viver urbano. O quanto gastamos em Copas e Diversão, deixando de construir salas de aula ou novos hospitais. O quanto há de corrupção e impunidade em altos escalões deixando para a punição imediata outra parcela da população.

Misturam-se às recusas às velhas bandeiras partidárias. As bandeiras que Sérgio vê de sua janela, ou as que os personagens de Bertolucci agitam em frente às universidades de Paris. Porém nem estes, como eu, já envelhecidos pela lembrança de 68, nem os sonhadores de 2013 podemos negar que já não somos mais os mesmos do mês passado.

Podemos, portanto, além de abrir a porta, pois as ruas por elas estão entrando, abrirmos, urgentemente, uma pequena fresta nas janelas de nossos olhares, miradas e mentes para o que está realmente se passando no Brasil. Uma janela sem binóculos ou telescópios, pois não há mais distâncias ou velamentos que nos protejam do Futuro que nós mesmos semeamos.

ABRAM AS SUAS JANELAS, COMO UMA TELA DE CINEMA, E NÃO DE TELEVISÃO. HÁ UM HORIZONTE PARA ENTRAR POR ELAS...

MEMÓRIAS PARA NOSSO DESENVOLVIMENTO. PODEREMOS SONHÁ-LAS JUNTOS OU TORNÁ-LAS INESQUECÍVEIS INDIVIDUALMENTE?

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de MASSA)

INDICAÇÕES PARA LEITURA CRÍTICA –

O CINEMA PENSA – uma introdução à Filosofia através do Cinema – Julio Cabrera, Editora Rocco, Rio de Janeiro, RJ, 2006.

SOBRE EDUCAÇÃO E JUVENTUDE – Zygmunt Bauman, Editora Zahar, Rio de Janeiro, RJ, 2013.

Memórias do Subdesenvolvimento, arte e revoluções http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=2821

INFORMAÇÕES sobre o filme que transverzaliza  e ao texto, espero que ao contexto–

"Memórias do Subdesenvolvimento" chega em DVD no Brasil (‘somente em 2006’) http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u60700.shtml

Trecho do filme - http://www.youtube.com/watch?v=MSnyuh_xY54  (com Sérgio e intromissão dos afetos em sua vida distanciada deles... o amor/paixão também podem ser revolucionários? Ou somente  o Povo?)

Filme citado no texto – Os Sonhadores – Bernardo Bertolucci (2003) http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Sonhadores

LEIAM TAMBÉM NO BLOG –
DEMOLINDO PRECONCEITOS, RE-CONHECENDO A INTOLERÂNCIA E A DESINFORMAÇÃO http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/06/demolindo-preconceitos-re-conhecendo.html

MOVIMENTOS, MASSAS, MANIFESTOS E HISTÓRIA: POR UMA MICROPOLÍTICA AMOROSA, URGENTE. http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/06/movimentos-massas-manifestos-e-historia.html

A PRAÇA É DO POVO? AS RUAS SÃO DOS AUTOMÓVEIS E DOS ÔNIBUS? E OS DIREITOS HUMANOS SÃO DE QUEM? - http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/06/a-praca-e-do-povo-as-ruas-sao-dos.html

A ILHA DO FELIZ SEM ANO E O SEU INTRUSO, E, NÓS TAMBÉM (apenas um re-conto) http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/05/a-ilha-de-feliz-sem-ano-e-seu-intruso-e.html

A CORÉIA DO FANATISMO POLITICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR: estamos no Século XXI? http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/04/a-coreia-do-fanatismo-politico-e-o.html

quinta-feira, 20 de junho de 2013

MOVIMENTOS, MASSAS, MANIFESTOS E HISTÓRIA: POR UMA MICROPOLÍTICA AMOROSA, URGENTE.


Imagem – uma série de fotografias que tirei há muitos anos, em 1989, no Rio de Janeiro, com imagens de passeatas que foram feitas durante a campanha eleitoral de Lula. Um mosaico de recordações. Há um grupo de crianças, em preto e branco, chamadas de “lulinhas”, e que se reúnem com um grupo coeso. Há uma foto tirada do alto do Sindicato dos Bancários que mostra a multidão que se aglomerava na Avenida Presidente Vargas. Há uma foto colorida, para mim emblemática, pois é um grupo de mães com carrinhos de bebês que participam ativamente, com suas flores ou bandeiras, sem nenhuma forma de sensação de ameaça pela sua exposição e das crianças, no meio da Avenida Rio Branco, bem próximo de onde recentemente ocorrem os conflitos em frente da Alerj e do Teatro Municipal. Foram homens, mulheres, jovens sonhadores, idosos ativistas e principalmente, milhares de crianças... Porque será que agora não mais estão por lá?  Essa multidão, aparentemente, “pacífica” foi substituída por quem e quais grupos sociais ou políticos? Éramos mais amorosos, mais politizados ou menos violentos?

“Oh!... Minha irmã Violência, minha lassidão...
Oh! Tu juventude sempre agarrada ao livro
Há que fazer amor como quem vai à escola,
E, depois vir para a Rua,
Há que fazer amor “como quem comete um crime...” (Léo Ferré, 1967/68).

Éramos, somos e seremos sempre DIFERENTES.

Reencontro através dessas imagens, pois estava lá totalmente implicado com os desejos dessas massas, com um tempo que se ensaiavam exercícios micro de mudanças macro políticas. Queríamos eleições, candidatos com partidos definidos, propostas e pautas para uma futura governamentabilidade nacional DEMOCRÁTICA. E as bandeiras eram agitadas sem temor ou terror. Éramos constituintes.

Em 23 de setembro de 1987 participei de uma mesa redonda promovida pelo Núcleo Psicanálise e Análise Institucional, para o lançamento de sua clínica, com o título: O AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA. Nela foi que apresentei um texto que recentemente encontrei guardado. Em papel datilografado, por uma velha máquina de escrever, amarelado e esmaecido pelo tempo. Passaram-se 25 anos.

O texto teve a contribuição e participação em sua leitura pública de uma grande amiga: Lília Lobo. E nós nos apelidávamos de ‘dupla sessenta e nove’, uma alusão às nossas implicações com o ano de 1968.  O mesmo que está no cartaz que utilizei no meu texto anterior.

Apresento, então, como reflexão, alguns trechos que completam minhas lembranças suscitadas pelas fotos embaralhadas pelo tempo e pela História. E a poesia que cito no início deste texto também já foi lida em público. 

Nesse debate, além de nossa dupla afetiva, estavam no Espaço Cultural Sérgio Porto, dois importantes representantes da luta contra a ditadura: Fernando Gabeira e Herbert Daniel.

Com eles compartilhamos nossos desejos instituintes. E dissemos: “O crime (alusão ao texto de Ferré) que nos últimos tempos vive associado às paixões, consideradas tão violentas e arrasadoras, virou assunto de especialistas, leis, normas e prescrições...”. Ali já se discutiam  as marginalizações que se aplicavam às diferenças e aos diferentes. Estávamos em um ano pré-Constituição.

Dizíamos: “... Estamos em um momento em que os arautos da Salvação (já existiam os fundamentalistas e os radicais de direita) da República Eldorádica nos avisam da chegada espetacular de Tempos de Constituinte, onde os prazeres e as alegrias,  para felicidade geral e a Segurança Nacional (construíam-se as bases dos projetos de lei que hoje o Pastor e sua gang tentam sorrateiramente aprovar para “curar psicologicamente homossexuais”). Serão catalogados e as novas Condutas (morais) elaboradas. Enfim seremos SALVOS...”.

Ontem, 18 de junho de 2013, mais um dia de Orgulho (Autista), após todos os protestos generalizados, aproveitando-se da “cortina de fumaça” desse calor e onda das massas, o Pastor conseguiu aprovar o absurdo e aético projeto de lei que permite às pessoas ditas “homossexuais” serem tratadas, e salvas de sua corrupção carnal antirreligiosa, por psicólogos. Anunciávamos, nesse debate histórico, o Futuro?

Não, apenas já dizíamos: “... o que vemos e assistimos são seres humanos e sua terra em transe e em transição... vivemos ainda a experiência da Miséria e a experiência da Impotência, somos assaltados pelas Dúvidas e pelas Dívidas... E, por isso perguntamos: - o que poderemos esperar de um Povo assim massacrado?”.

Como tentativa de ampliar a visão micropolítica que já partilhávamos no Núcleo, com muitas intensidades e multiplicidades, convocávamos às pessoas, aos que lá estavam, para saírem de suas paralisias, de seus enclausuramentos, de seus isolamentos narcísicos, e principalmente do Medo. Já dizíamos da importância de ações que nos incomodassem e nos levantassem de nossos conformismos aburguesados.

Desejamos, nestes tempos coléricos, como psicólogos e psicanalistas que não se diziam neutros ou neutralizados, a criação de dispositivos analisadores, históricos ou não, que desvelassem os ocultamentos das formas de amar e amor homoeróticos. E denunciar as violências silenciosas e silenciadoras de quem ainda não recebera a denominação de homofóbicos.

Éramos profissionais que buscavam a Análise Institucional, como um movimento instituinte, para quebrar o distanciamento das realidades para além dos divãs. Muitos e muitas que acreditavam na necessidade de propor novas formas de amor e de amar como antídoto para os preconceitos e para despolitizações do viver, inclusive dos modelos psicanalíticos daquela época histórica.

Pudemos ter a honra de ouvir um ex-guerrilheiro, Herbert Daniel, nos afirmar que houve, também, a repressão ao amor pelo igual, como quaisquer das sexualidades “diferentes”, dentro das esquerdas brasileiras. E, com sua lucidez e vivência, nos alertar para o quanto reproduzimos os modelos de moralidade do Século XVII ou XVIII, apegados a estigmas e preconceitos religiosos, políticos ou sociais.

Já dialogávamos sobre a necessidade de provocar incêndios. Não os que devastavam, à época, quase metade do estado de Rondônia. Não desejamos, nesse tempo, e, espero ainda hoje a aridez dos desertos e a devastação. Creio que, hoje, essas massas incendiadas e incendiárias podem estar apenas reproduzindo o seu maior símbolo: o Fogo.

Essas multidões nas ruas, esses protestos, essas manifestações, pela ótica de Canetti, podem nos ensinar um pouco sobre o poder das massas. Assim como o fogo se propagam, contagiam, como diz a repórter da TV: “até os sexagenários...”. Elas ainda são insaciáveis. Não param e não se extinguem, com os recuos políticos. Mesmo diante de suas forças repressoras das balas de borracha, bombas ou polícias. Não adiantarão os brucutus com jato de água fria. Não apagam. Nem serão apagadas da História.

Portanto, caros senhores instituídos nos Poderes, ora podres, ora prostituídos e corrompidos, é hora de re-conhecerem um pouco das visões dos movimentos institucionalistas. Hora urgente de buscar respeitar uma micropolítica em ação, que se traduz nessas revoltas. Hora também de uma micropolítica que resgate as múltiplas formas de amar e ser amado.

No Amor em Tempos de Cólera coletiva, como dissemos: “... estamos (e agora revivo) em plena RÉ-VOLTA do mito pestífero (citação ao livro A Peste, de Albert Camus, e alusão ao advento da AIDS nesses Anos 80), dentro de nosso país multifacetado e de tensas multiplicidades...”. Tivemos o temor de que: “... nosso caldo gelatinoso (as massas) que ameaça endurecer, em uma transição sob o signo da insegurança nacional, assistirmos uma transformação e transfiguração dos agredidos em agressores, dos humilhados em invasores humilhantes, dos injustiçados em linchadores justiceiros...”.

Portanto, prezados midiatizadores e formadores de opinião, principalmente sob a ótica da Globo/Veja, assim como governantes, à moda de Alckmin ou Cabral, não quero ter de repetir o aviso. São massas, são famélicas de alguma forma de poder, são múltiplas e heterogêneas (já existem cartazes defendendo a perda da maioridade penal). Podem se tornar até destrutivas, mas não se tornam na totalidade queimadas, não são poluentes e tem fuligem.

Há quem se aproveite da ocasião e, incitados por quem assim o deseja, que se ataquem as bancas de jornal, os microfones disfarçados, as câmeras e os carros de reportagem, assim como as portas de ferro dos espaços públicos que representam alguma forma de Poder instituído. Mas observem que estas fúrias são localizadas, pontuais e isoladas, como algumas formas de incêndios intencionalmente provocados.

Porém como o fogo deixam cicatrizes indeléveis. Há, porém, como debatemos calorosamente naquele tempo, a possibilidade de as “curar” com muito Amor. Dissemos: “-dentro desta perspectiva futurística, podemos acreditar que não haverá a tão difundida mudança de comportamento amoroso, o nascimento de uma ‘Nova Sociedade dos Tempos de Cólera’ (coletiva ou individual), pois o que está em foco é uma reafirmação das normas e formas aburguesadas e higienizadas de Amar, e convictos pelo Pânico (uma arma sutil e subliminar que as imagens desse fogo das massas nos produzem) passamos a dizer SIM...”

Passamos, como querem os tempos pastorais, higiênicos, eugênicos e biopolíticos, a dizer sim, passivamente, tempos depois do fogo cessado, à “monotonia das parcerias fechadas em si mesmas, aos pares hiper solitários ou ao extremado celibatarismo itinerante, pensando serem estas as únicas garantias contra a inevitável Morte, muito embora se saiba que estamos há muitos séculos ‘matando’ os amores que não podem ou devem dizer seus nomes”.

Os amores proibidos podem também deixar cicatrizes com o fogo que se produz com massas do ódio e da estigmatização. Estamos na Sociedade do Espetáculo. Os amores outrora negados começam a chocar ou serem chocados dentro das diferentes mídias. A sua visibilidade passa de incômoda a naturalizada. Não são mais violentas para nossos olhos ou mentes conservadoras?

Em imagens que estão sendo enviadas, a pedido da Rede Globo, podemos ver sempre o lado midiatizado dessas massas. São usadas as imagens que tratam estes jovens como vândalos. As cenas de violência sobre os manifestantes não estão por lá. Uma das mais interessantes é um protesto realizado dentro de um shopping, em cidade do interior paulista. Lá estão milhares de jovens gritando e cantando o Hino Nacional e agitando a nossa bandeira.

Não seria estas imagens, também, a denúncia dos nossos novos modos de subjetivação conservadora ou nacionalista? Que revoluções estão se anunciando?
Vem para a rua que é a maior arquibancada do Brasil”. É um dos cartazes escritos à mão e que substituem as antigas bandeiras ou faixas partidárias. Aparece novamente o verde e o amarelo. Nos rostos, nas caras ditas pintadas, em bandeirolas... Porém os estádios e as televisões ainda fascinam a outras multidões, grupos, indivíduos, outras massas.

Houve apenas uma fotografia difundida pelas redes sociais que eu esperava causar mais impacto nos corações que nas mentes. Era um casal de jovens, de dois seres/corpos envolvidos sobre o asfalto, amorosamente, em meio a toda a tropa de choque e bombas de gás lacrimogêneo. Não usavam nenhum vinagre. A sua mistura bombástica era feita de carne humana, sexo, amor e outras violências, como as que Ferré incita aos jovens.

Volto, então, ao texto que li no passado, junto a Gabeira, Daniel e a amiga Lobo: “Para nós o Amar implica in-tensa-idade, como dizem aos jovens que se considera um adulto aquele que se conforma em VIVER MENOS para não ter que MORRER MUITO. Entretanto, como nos diz Edgard Morin, ‘o segredo da juventude é este: VIVER SIGNIFICA ARRISCAR-SE A MORRER, E A FÚRIA DE VIVER SIGNIFICA VIVER A DIFICULDADE...”.

Proclamamos um dia, na busca de OUTRA CLÍNICA, que busca a transposição, analítica e psicanalítica, da CURA DO OUTRO PELO OURO, pela falsa pureza política ou religiosa, como querem estes pastores, deputados e clérigos, muito menos sua produção de uma subjetividade ou grupalidade assujeitada ou assexuada.

Este “... Ouro que integra e entrega o sujeito à Besta Capitalística e Apocalíptica... Para passar para a PRO-CURA DO OURO DO OUTRO, suas preciosidades e amorosidades, assim como seus defeitos e ranhuras... e, beijando na boca o tesouro que cada um esconde, para deixar vazar mútuas ternuras, cóleras apaixonadas, tênues afetos esquecidos, pequenas diferenças insuspeitas...”.

 E, que possamos juntos ou isoladamente, invertendo o temor de sermos tocados pelo Outro, fazer deslizar forças instituintes, como as atuais massas e seu fogo cívico, para o interior das amarras instituídas.

Sejamos agentes e agenciadores de novas singularidades e novas suavidades amorosas, pois como diz Guattari: “Todos os devires singulares, todas as maneiras de existir de modo autêntico chocam-se contra o muro da subjetividade capitalística”. As balas de borracha, já o disse, são as “mesmas” em todas as manifestações de populações insurgentes em todo o mundo do hipercapitalismo.

As fotos que fiz no passado traziam sempre a minha procura dessa outra cartografia para os movimentos de protesto.  Espero que um dia aquelas crianças que fomos, para além dos jovens adultos insatisfeitos ou indignados que estamos sendo, também possam existir no meio dessa multidão, dessas massas.

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013/2014, atualizado em 2023, ad infinitum - todos direitos reservados  (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de MASSA)

Citações no texto –

LÉO FERRE – Seleção e tradução de poemas, canções e da carta inédita, Ulmeiro Livraria, Lisboa, Portugal, 1984.

MICROPOLÍTICA: CARTOGRAFIAS DO DESEJO – Felix Guattari & Suely Rolnik, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2005 (7ª edição) – para acesso parcial ver o link - https://pt.scribd.com/doc/80018300/Guattari-e-Rolnik-Micropolitica-Citacoes-Trechos-pt-br

NOTÍCIA sugerida para leitura crítica e revolucionária - Direitos Humanos aprova projeto que permite tratamento da homossexualidade https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/445349-DIREITOS-HUMANOS-APROVA-PROJETO-QUE-PERMITE-TRATAMENTO-DA-HOMOSSEXUALIDADE.html

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